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Porque hoje está chuva - O Escafandro e a Borboleta

"...No distintivo de identificação pregado na bata branca de Sandrine está escrito: ortofonista (terapeuta da fala), mas deveria ler-se: anjo da guarda. Foi ela quem me instaurou o código de comunicação sem o qual eu ficaria separado do mundo. Infelizmente, embora a maior parte dos meus amigos tenha adoptado o sistema, depois de uma aprendizagem, aqui, no hospital, só posso praticá-lo com Sandrine e uma psicóloga. Na maior parte das vezes, só disponho de um magro arsenal de mímica, piscadelas de olho e acenos de cabeça para pedir que fechem a porta, me dêem um pouco de água, baixem o som da televisão ou me subam a almofada. Ao longo das semanas, esta solidão forçada permitiu-me adquirir um certo estoicismo e compreender que a humanidade hospitalar se divide em dois tipos. Há a maioria que nunca atravessa a soleira da porta sem tentar entender os meus SOS e outros, menos conscienciosos, que se eclipsam, fingindo não ver os meus sinais de aflição.
(...) Para além dos aspectos práticos, esta incomunicabilidade pesa um pouco. Imagine-se como me sinto reconfortado duas vezes por dia quando Sandrine bate à porta, faz uma cara de esquilo apanhado em falta e expulsa de imediato todos os maus espíritos. O escafandro invisível que me envolve permanentemente parece menos opressivo."
O Escafandro e a Borboleta.
Jean-Dominique Bauby

Porque é importante sermos capazes de nos colocarmos do outro lado, de ajudarmos a aliviar o peso do escafandro.

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