Comemora-se hoje um dos meus feriados preferidos. Não estava sequer em projecto em 1974, nasci 13 anos depois...mas gostava muito de ter vivido esse tempo, gostava de ter estado lá, quando as pessoas ainda tinham uma capacidade imensa de sonhar. Perante o que vivemos hoje, acho muito importante festejar Abril, e não me importo de ouvir duzentas vezes a "Grândola" ou o "E depois do Adeus", na rádio, e os discursos na Assembleia. E continuo a comover-me com algumas palavras. Há ideais que nunca devem cair no esquecimento.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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