Não gosto dele. Nem um bocadinho. Talvez para isso contribua o facto de já ter terminado um namoro no dia dos namorados, o que é sempre oportuno e lógico. Mas também não gosto do folclore à volta e dos lacinhos e ursinhos e coisinhos nas montras. Amanhã o plano é ir jantar a casa de uma amiga que é casada mas cujo marido vai trabalhar, com outra amiga, tão desimpedida quanto eu. Vamos encomendar pizzas, ver o filme do Gato das Botas e comer pipocas. Se podia ser mais romântico? Podia, mas não há namorado (tristezas desta vida...), e mesmo quando havia o dia não era festejado. Há que respeitar a tradição.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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