A cada reinício de qualquer coisa, uma nova lembrança. Um novo ano lectivo está aí à porta e é inevitável que faça balanços. Há um ano, por esta altura, a minha avó ainda estava viva e nada fazia supôr o final. Há um ano, o meu avô era o homem austero de sempre, e não havia menção de vir a ser a pessoa frágil e carente em que se tornou.
Há um ano estávamos nós, felizes, em processo de redescoberta, três anos depois de uma tentativa falhada. E desta vez estávamos todos, eu, tu e a depressão em que te encontravas mas que eu não sabia existir.
Há um ano eu era mais esperança do que pessoa, sem ver o que já estava a descoberto há muito, disposta a abdicar do que fosse porque "agora é que é mesmo a sério". Mas não foi. Desististe a meio, como sempre. Pus-me nas tuas mãos e deixaste-me cair. De novo. Por medo, por "e se...". E mais uma vez fiquei com o barco e com os remos, incapaz de os utilizar para ir para a frente, enquanto tu te afastavas. Imóvel de ternura, de sentidos, de força e de vontade. Escrevi-te a carta que nunca pensei ser capaz de escrever a ninguém, tão, mas tão sentida, que ainda hoje quando a volto a ler sinto que te toquei no coração e que aquele foi o esforço derradeiro, que se não resultou assim, nada mais poderia fazer.
Foi um ano complicado. Os imensos trabalhos de grupo quando o que apetecia mesmo era ficar sozinha, em paz, em silêncio, a fazer o luto do que era um projecto a dois...as mortes de pessoas tão queridas, duas, no espaço de oito meses, sem poder tirar um dia para chorar porque estava em estágio e "estagiário que chora em consulta é automaticamente reprovado!", a coragem para encontrar o ânimo necessário para me pôr a pé de manhã sem encontrar grandes motivos para o fazer.
Hoje sei que as consultas no psicólogo já aconteciam há muito. Que não dependia mais de mim, que enquanto durou foi verdadeiro e foi importante, mas a perspectiva de poder ter continuado, não fossem esses fantasmas todos que carregas, é aterradora. O sentimento de continuar a pensar no que poderia ter sido, é péssimo. É ainda pior não querer lembrar-me dos bons momentos, mas como foram todos bons porque não tivémos tempo de passar pelos maus, é inevitável. E esta sensação do inacabado dá cabo de mim.
Ainda assim, fecho os olhos, penso em ti e tenho a certeza que daqui em diante tudo será melhor.
Há um ano estávamos nós, felizes, em processo de redescoberta, três anos depois de uma tentativa falhada. E desta vez estávamos todos, eu, tu e a depressão em que te encontravas mas que eu não sabia existir.
Há um ano eu era mais esperança do que pessoa, sem ver o que já estava a descoberto há muito, disposta a abdicar do que fosse porque "agora é que é mesmo a sério". Mas não foi. Desististe a meio, como sempre. Pus-me nas tuas mãos e deixaste-me cair. De novo. Por medo, por "e se...". E mais uma vez fiquei com o barco e com os remos, incapaz de os utilizar para ir para a frente, enquanto tu te afastavas. Imóvel de ternura, de sentidos, de força e de vontade. Escrevi-te a carta que nunca pensei ser capaz de escrever a ninguém, tão, mas tão sentida, que ainda hoje quando a volto a ler sinto que te toquei no coração e que aquele foi o esforço derradeiro, que se não resultou assim, nada mais poderia fazer.
Foi um ano complicado. Os imensos trabalhos de grupo quando o que apetecia mesmo era ficar sozinha, em paz, em silêncio, a fazer o luto do que era um projecto a dois...as mortes de pessoas tão queridas, duas, no espaço de oito meses, sem poder tirar um dia para chorar porque estava em estágio e "estagiário que chora em consulta é automaticamente reprovado!", a coragem para encontrar o ânimo necessário para me pôr a pé de manhã sem encontrar grandes motivos para o fazer.
Hoje sei que as consultas no psicólogo já aconteciam há muito. Que não dependia mais de mim, que enquanto durou foi verdadeiro e foi importante, mas a perspectiva de poder ter continuado, não fossem esses fantasmas todos que carregas, é aterradora. O sentimento de continuar a pensar no que poderia ter sido, é péssimo. É ainda pior não querer lembrar-me dos bons momentos, mas como foram todos bons porque não tivémos tempo de passar pelos maus, é inevitável. E esta sensação do inacabado dá cabo de mim.
Ainda assim, fecho os olhos, penso em ti e tenho a certeza que daqui em diante tudo será melhor.
Comentários
Como alguém disse, não lambas as tuas feridas, celebra-as! Foram elas que te fizeram a pessoa que és hoje. E lembra-te sempre que o melhor ainda está para vir.
Sorriso nesse rosto e bola prá frente!