"Sentou-se sozinho, no escuro.
A depressão abatera-se sobre ele, sem apelo nem agravo. Num minuto estava sentado à secretária a ler alguns ficheiros e no outro o imenso peso negro caíra sobre ele com toda a força.
Já lhe havia acontecido antes, sem nenhum sentido vago de desconforto, nem tristeza avassaladora. Apenas aquela onda imensa de negrume que o enrolava na sua espuma. Apenas aquela mudança abrupta da luz para a escuridão.
Não se tratava de desespero. O conceito de esperança tinha de ser um factor a ter em conta antes de abraçarmos a sua ausência. Não se tratava de desgosto, aflição ou raiva. (...)
Era um vazio. Incomensurável, negro, irrespirável e arrastava-o com ele.
Conseguia funcionar apesar dele; aprendera a fazê-lo. Se não funcionasse, as pessoas não o deixariam em paz e os seus cuidados e preocupações apenas iriam afundá-lo mais no fosso em que se encontrava.
Podia andar, falar, existir. Mas não conseguia viver. Era assim que se sentia, quando se deixava puxar por aquelas amarras."
Nora Roberts in "Luzes do Norte"
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