Uma colega da Madeira, que está a estudar cá, esteve desde manhã a tentar telefonar para os pais e não tinha conseguido falar com eles até agora. Todo o dia a ver imagens de inundações, casas destruídas e pessoas que perderam a vida, e as linhas telefónicas sempre interrompidas. Que medo... Felizmente agora, antes de jantar, conseguiu, finalmente, falar com o pai, que lhe disse que estão todos bem e que não tiveram danos, pelo menos por enquanto. Fiquei mesmo contente por ela e nem imagino a angústia que deve ser, estar assim sozinha a ver o sítio onde cresceu num caos e sem notícias da família...
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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