Há certas pessoas que não têm mais nada que fazer da vidinha e põem-se a reflectir. A reflectir sobre o quê? perguntam vocês. E eu respondo: Sobre nada de especial, mas a partir do momento em que estes seres de renome entram em período de reflexão, os terapeutas professores da D. acham que os seus caros alunos têm de estar a par. Vai daí, a D., que nunca na vida tinha ouvido falar de certos e determinados psicólogos e cientistas - desocupados, de certeza - tem de ler os seus artigos todos de fio a pavio e toda a sua vida fica tomada por eles. E é interessante?, voltam vocês a perguntar. E eu torno a responder: Não, não é. Se fosse eu já tinha lido há muito tempo, não estava agora, a uma 6f à noite, agarrada a estes textos deprimentes e secantes! Pior!! Quando estes senhores pensaram nestas cenas, a Terapia da Fala ainda nem existia, e agora eu tenho de relacionar estes raciocínios brilhantes, com as práticas da minha futura profissão. Acho que é pedir um bocado demais, visto que os senhores na altura nem se lembraram disso... isto de facto, há gente que só vive do mal dos outros. Já o Descartes se armou em carapau de corrida com a Matemática e tramou-me no secundário, e agora vem este infeliz atazanar-me na faculdade!
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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