Hoje ao final da tarde, quando já não tinha mais nenhuma criança para ver (e no meio do caos que aquela mesa fica no fim de cada sessão), encostei-me na cadeira e deu-me assim uma saudade tão grande daquele dia no fim de Julho em que fui para o parque da cidade à tarde, sozinha, só com um livro... Uma parte substancial da minha vida está melhor agora do que estava nesse dia, mas desde aí nunca mais tive assim um bocadinho em sossego, alheada do resto, e às vezes isso é tão preciso para me equilibrar.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
Comentários