Estou chocada com a partida de uma pessoa que marcou os quatro anos do meu curso. Não tinha muita afinidade com ela, mas ensinou-me uma boa parte daquilo que sei. Não encontro explicação para tamanha atitude. Deixou uma filha pequena, um bebé de 6 meses e um marido que ainda nem deve saber o que passou por ele. Aparentemente era uma pessoa feliz, dinâmica, com um bom emprego, um óptimo ambiente familiar...Ninguém percebeu que estava em sofrimento, ninguém foi capaz de lhe dizer as palavras que ela precisava de ouvir e continuamos sem saber o motivo que a levou a desistir de tudo. Ficam as memórias e um alerta para estar mais atenta aos outros. Nem tudo é o que parece e há pessoas desfeitas que se escondem atrás de um sorriso, até um dia.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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Beijinho *