Desde que saí do estágio, as coisas não estão fáceis. Tenho consciência que não me deixaram alternativa, que aquilo não estava a ser aprendizagem mas sim violência psicológica e que ia ter um final pouco feliz...e como tal, sei que fiz bem em vir embora. Com tudo o que isso acarreta. Neste momento a minha motivação é zero, a vontade de entrar na faculdade é nula, ainda que quem lá está não tenha culpa nenhuma do que se passou. Acho que estou numa espécie de comportamento de fuga, em que até com as pessoas ligadas ao curso evito falar. E a questão é mesmo essa...as minhas amigas, da turma, também não têm feito grande esforço para falar comigo. Por outro lado, outras colegas de quem eu não esperaria tal gesto, têm-se mostrado verdadeiramente preocupadas, sempre com palavras de incentivo e disponibilidade. Fazem-me lembrar todos os dias que não é uma pessoa que não me conhece de lado nenhum que define o meu valor e que o futuro ainda vai ser generoso comigo. Desilusões por um lado e boas surpresas pelo outro.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
Comentários