Assim sem contar, na sexta-feira ele enviou-me mensagem. Uma mensagem que dava conta de ter arranjado trabalho, mas que tecnicamente não era para mim, visto que não falamos há 8 meses. Não respondi, não disse que foi engano. Ele também não mandou mensagem a retratar-se. Vai daí, depreendo que a enviou esperando uma espécie de reação minha. Confesso que fiquei morta de curiosidade, até me doeu o estômago, mas contive-me, segurei-me, trinquei os dentes. Lembrei-me do que me fez em dezembro e fiz de conta que ele não existe. Orgulhosa de mim.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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