Estou sem saber o que fazer. Esta devia ser uma época de paz interior e eu tenho o coração angustiado. A culpa é minha. Eu sei que vai acontecer, sei que ele volta sempre a desiludir-me, uma e outra vez...que é uma questão de tempo, e no entanto, nunca consigo ser mais forte, ser racional. Quantas vezes já tive esta conversa aqui? Sei lá! Posso garantir que não sou burrinha, que antecipo este momento há meses, não posso dizer que seja uma surpresa, mas é sempre uma desilusão. Acho que não gosto assim tanto de mim...
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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