Ontem à noite já estava deitada e surgiu-me um sentimento de angústia, uma tristeza tão grande...sem motivo. Hoje custou-me imenso a sair da cama para ir trabalhar, doía-me o corpo e como dormi mal estava cheia de sono, mas lá fui. A manhã correu bem. De tarde, a mesma sensação de angústia, senti-me fraca, debilitada e percebi que tinha febre...mas acho que não justifica o facto de ter começado a chorar como se não houvesse amanhã. Foi incontrolável...não sei se foi algo semelhante a uma crise de pânico...não sei...nunca me tinha acontecido antes. Chorei, chorei...e ainda não chorei tudo. Vim para casa e dormi 5h seguidas. Talvez seja exaustão, talvez seja a minha menina que iniciou a quimioterapia esta semana e que não me sai da cabeça, talvez seja o facto de ele me fazer sentir tão bem e a incerteza de não o ter perto, talvez seja tudo ao mesmo tempo que me faz este aperto no peito. Não sei o que se passa comigo.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
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