Só dizem que ele está muito mal, muito mal, mas ninguém sabe de quê nem porquê e também ninguém pergunta. Esteve dias sem conta com frios e calores e fraquíssimo e ninguém teve a encantadora ideia de lhe pôr um termómetro a ver se tinha febre. Deve ser cancro no pulmão. Espero que não seja. Mas quem fumou tanto e bebeu tanto e cometeu tantos excessos, pode esperar isso. Se tenho pena? Tenho, muita. Gosto dele, é boa pessoa, sei que gosta de mim embora não sejamos muito próximos. Mas quem se mata às próprias mãos depois não pode dizer que não foi avisado. No meio da situação toda, parte-me o coração ver a minha mãe sofrer assim...dói-me por ele e por ela. Não tenho irmãos, não sei como é, mas imagino que seja muito duro ver partir alguém que nos acompanhou toda a vida. Não acredito em milagres, mas espero um...que melhore, que não seja nada disso, que daqui a uns dias tenha sido "só um susto". Se não for, que seja rápido para que ninguém sofra mais do que o necessário.
Hoje numa sessão de Terapia da Fala vi um menino de nove anos em sofrimento. Tem muitas dificuldades e é posto de parte pelos colegas na escola, batem-lhe, tratam-no mal...Contou-me que sabe que é diferente, que na turma dele há outra menina, que também é diferente, e que os outros gozam com ela, mas ele não, porque também tem problemas e sabe o que é não ter ninguém que nos apoie. Disse-me assim. Acrescentou que de manhã acordou tão feliz porque ia estar com o primo ao fim da tarde...e que depois na escola lhe bateram, não pôde fazer a aula de educação física e ficou lá num canto...que o dia foi uma tragédia. "Preciso de esvaziar o cérebro, não consigo parar de pensar nisto!". Tentei acalmá-lo, animá-lo, traçar um plano com ele, dizer-lhe como agir se uma situação semelhante voltar a acontecer. No fim, dei-lhe um abraço e ofereci-lhe uma caneta colorida e ele disse-me "Obrigada...pela caneta...por tudo. Acho que a minha vida é injusta. Obrigada por me ouvires." ...
Comentários