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Porque hoje está chuva - O Escafandro e a Borboleta

"...No distintivo de identificação pregado na bata branca de Sandrine está escrito: ortofonista (terapeuta da fala), mas deveria ler-se: anjo da guarda. Foi ela quem me instaurou o código de comunicação sem o qual eu ficaria separado do mundo. Infelizmente, embora a maior parte dos meus amigos tenha adoptado o sistema, depois de uma aprendizagem, aqui, no hospital, só posso praticá-lo com Sandrine e uma psicóloga. Na maior parte das vezes, só disponho de um magro arsenal de mímica, piscadelas de olho e acenos de cabeça para pedir que fechem a porta, me dêem um pouco de água, baixem o som da televisão ou me subam a almofada. Ao longo das semanas, esta solidão forçada permitiu-me adquirir um certo estoicismo e compreender que a humanidade hospitalar se divide em dois tipos. Há a maioria que nunca atravessa a soleira da porta sem tentar entender os meus SOS e outros, menos conscienciosos, que se eclipsam, fingindo não ver os meus sinais de aflição.
(...) Para além dos aspectos práticos, esta incomunicabilidade pesa um pouco. Imagine-se como me sinto reconfortado duas vezes por dia quando Sandrine bate à porta, faz uma cara de esquilo apanhado em falta e expulsa de imediato todos os maus espíritos. O escafandro invisível que me envolve permanentemente parece menos opressivo."
O Escafandro e a Borboleta.
Jean-Dominique Bauby

Porque é importante sermos capazes de nos colocarmos do outro lado, de ajudarmos a aliviar o peso do escafandro.

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Esta coisa da gestão das relações humanas e dos mal entendidos deixa-me exauridinha.    

Adeus Amor Adeus ou a Poesia

Eu quero remar, Eu quero remar mas já desististe De tanto chorar, de tanto chorar E eu não sou de largar, não sou de largar Até o teu sorriso ficou triste Mas já não te prendo Adeus, amor adeus Não queres ficar E eu aceno e finjo que entendo Que no teu barco falte eu Até um dia, amor adeus Até ao dia em que nos teus braços falte eu Até ao dia em que nos teus braços falte eu Amor, adeus Até um dia Amor, adeus E o grito seja mudo Eu quero pedir mas tu já não mudas E o que há de bonito no mundo Não seja nada sem mim Eu quero pedir Nem sei existir De tanto te ouvir De tanto te ouvir Calaram-se as vozes E eu nem sei existir Adeus, amor adeus Sem ser nos teus passos Tu queres sair E a mentir digo que ultrapasso Até um dia, amor adeus Amor, adeus Até ao dia em que nos teus braços falte eu Que no teu barco falte eu Amor, adeus Até um dia Até ao dia em que nos teus braços falte eu Até ao dia em que nos teus braços falte eu E o grito seja mudo E o que há de